quarta-feira, novembro 21, 2007

Sonho de um homem ridículo

Eu sou um homem ridículo. No momento dizem que estou louco. Seria um título excelente, se para eles eu não permanecesse nada mais que ridículo. Mas de agora em diante não me zango mais; todo mundo é muito gentil comigo, mesmo quando caçoa de mim, e, dir-se-ia, mais gentil ainda naquele momento. Eu riria de bom grado com eles, não tanto de mim mesmo, quanto para lhes ser agradável, se não sentisse tal tristeza ao contemplá-los. Tristeza de ver que não conhecem a verdade, esta verdade só eu conheço. Como é duro ser o único a conhecê-la! Porém, eles não compreenderão. Não, não compreenderão.

Dostoievski

quarta-feira, novembro 14, 2007

Confesso que nos anos de militância ingênua, sentia falta de pessoas com background semelhante ao meu, tanto nas lides da vida, quanto nas visões de mundo. Mas isso não me impediu de caminhar. E olhando pra trás agora, considerando a quase total falta de estrutura financeira. Considerando que a minha passagem foi pioneira em tantos sentidos. Até que realizei muito, contribuí sem medo, com a construção da famosa Reforma Psiquiátrica.

Certamente, e agora já um tanto mais calejado com a visão crua dos atores, humanos e falíveis, reconheço muito que fazer. Aceito críticas internas e externas. Aproveito para aprimorar ainda mais a pontaria de minhas flechas/pensamentos. Qual arqueiro zen, busco o ato puro.

Sei também que a voz dos usuários de serviços de saúde mental ainda é pouco ouvida. Mesmo nos Caps e Associações. Mas no amadurecimento desses espaços está certamente o futuro brilhante que carregará de vez o preconceito, o auto preconceito, o isolamento e solidão que tantos nos oprime, principalmente antimanicomiais de coração.

Nunca neguei a dor da experiência subjetiva radical. Não posso ainda prescindir dessas medicações cheias de efeitos colaterais horrorosos. Assim como das internações, ainda que em hospitais gerais, nas situações de grave risco.

Só queria lembrar que elas, as experiências, carregam também possibilidades inestimáveis de amadurecimento, solidariedade, criatividade e cooperação. Essas que são sistematicamente negadas nos chiqueiros psiquiátricos e suas salas de intervenção e tortura.

Defendê-los seria um apego ao passado, por demais obscurantista.

Beijo na hipófise.

Nilo Neto