Mais uma vez, aprendemos com vocês. Estamos cientes de que não
se pode separar clínica e politica, pois que, a política se faz presente,
sempre, em todos os nossos atos. E quem desqualifica isso, não vive
neste mundo! Política e poder são inerentes, uma a outra. Esta é a grande
disputa que está em jogo, a partir da ABP, haja vista, a entrevista do
seu novo presidente, a qual, comentamos abaixo, reformulando um texto
nosso, anteriormente enviado.
Parabéns, querida professora e obrigado por sua citação
Geraldo e Dulce
aos médicos. O que nos parece é que, uma linha da psiquiatria é que é
contrária às políticas públicas. Paira no ar, um espectro de
"privatização" na saúde mental. Somos apenas dois familiares, porém, intensamente envolvidos há quase trinta anos, nas questões relativas à saúde mental, antes mesmo, de se cogitar sobre reforma psiquiátrica, movimento, CAPS e etc. e tal. Temos dois filhos esquizofrênicos: Dulce, mãe de Sylvio Luiz e Geraldo, pai de André Luiz, falecido em 31 de outubro de 2010, no sofá de sua casa, diante de mim, e não dentro de um hospital psiquiátrico. Portanto, sabemos muito bem do que estamos falando. Não aceitamos mistificação, seja de que lado for ou, de forma alguma. O que iremos declarar, é a afirmação e o
sentimento de toda uma vida. Não estamos sendo manipulados e, jamais nos
serviríamos para esse tipo de jogo. Trata-se de uma experiência legítima e
absolutamente pessoal, e não, de idéias abstratas.
Os psiquiatras dispensam tal defesa, exarada na entrevista deste senhor, pois, são profissionais com um nível científico-acadêmico diferenciado. Então, devem saber muitíssimo bem como lidar com as questões relativas às políticas públicas em saúde mental. Conhecemos muito bem, o Dr. Antonio Geraldo da Silva. Já ouvimos e lemos, em inúmeras oportunidades, essa cantilena massacrante e destruidora, com que esse senhor continua atacando, sem dó nem piedade e, sem o menor respeito, aos pacientes, que diz defender, tudo o que foi construído ao longo destes últimos vinte anos, procurando, a qualquer custo, trazer de volta os dias negros do manicômio. Sabemos, com muita clareza e, existem provas contundentes de que, o hospital psiquiátrico, por mais moderno que seja, NÃO TRATA! Existem novas formas de se abordar e de se tratar à saúde mental. A psiquiatria é, somente, uma delas.
Acreditamos que o prezado doutor não tenha relido sua entrevista, quando fala em interesses "ideológicos e corporativistas". Corporativismo? Interesses ideológicos? Interesse de quem? Custa-nos crer! Quem merece vestir essa carapuça, salvo, a própria ABP? Nem todos os psiquiatras pensam dessa forma. Conhecemos muitos, inúmeros psiquiatras que discordam, peremptoriamente, dessa afirmação, tão descabida. Isso tudo é mais uma grande chantagem, que vem sendo usada como se se tratasse de uma unanimidade, como uma posição de um "clube" único e... muito fechado. E porque os movimentos sociais não podem estar presentes nessas questões? Porque? Os movimentos sociais referentes à saúde mental, são basicamente compostos por usuários e seus familiares, incluindo-se aí, simpatizantes e muitos técnicos solidários, inclusive, muitos psiquiatras. Portanto, existe sim, um justo envolvimento de usuários, familiares e técnicos, pertencentes aos movimentos sociais.
O que dizer do presidente da ABP defendendo a Lei 10.216, agora? Essa mesma lei que foi massacrada, vilipendiada, execrada, desde a sua aprovação, em 2001, até os dias recentes e, desde muito antes, desde o primeiro projeto de lei, há vinte anos atrás, pela ala mais radical e conservadora da psiquiatria?
A humanização (palavra perigosa, esta) não se refere apenas, à psiquiatria. Nós todos somos humanos, demasiadamente humanos. Quem define a "humanização" ou não, do tratamento, é o usuário, o familiar e, às vezes, o profissional, desde que, engajado nessa nova perspectiva, nessa nova visão. Esse julgamento não cabe, nem ao ministério, nem à ABP.
O discurso da reforma psiquiátrica foi assimilado por todos, portanto, hoje em dia, ninguém mais é contra ela. O que esta acontecendo, evidentemente, é uma disputa pelo poder, mais do que evidente! Esta é a grande questão. Por mais que se queira desviar o foco de atenção, é o PODER que está em jogo! Só os muito ingênuos estão deixando de perceber isso. Está-se criando uma ruptura na saúde mental, com interesses pessoais, estes sim, corporativistas. Existe uma duplicidade nesse inacreditável discurso, do Dr. Antonio Geraldo. Ambos os nossos filhos, portadores de transtornos da mais alta complexidade, repetimos, esquizofrenia-paranóide, são, foram e serão tratados, sempre, invariavelmente, nesses serviços, que ora estão sendo considerados, como uma unanimidade dentro da ABP, como sendo incapazes para o atendimento de "determinados diagnósticos".
Existe um erro em se chamar os CAPS de símbolo, conforme declaração do presidente da ABP. Eles não representam um símbolo, mas são, na realidade, as âncoras para o tratamento humanizado. Não são soluções fáceis, nem fictícias.
Essa entrevista do senhor doutor Geraldo Antonio da Silva, de um voluntarismo exacerbado, nos dá a oportunidade de, enfim, conhecer a verdadeira face de uma ala da ABP, a qual, finalmente, ele conseguiu presidir. Ao que nos parece, a solução definitiva de todos os problemas da saúde mental, está em suas mãos... Existe uma grande má-fé, em dizer-se que o acolhimento noturno é um eufemismo para internação. Nem vamos entrar no mérito desta discussão. É evidente que lá, exista uma equipe multidisciplinar, contando, inclusive, com médicos psiquiatras da maior importância e, reconhecidamente capazes, senão, não teríamos a tranqüilidade para deixar lá, nossos filhos.
Nós, na condição de familiares, já estamos profundamente decepcionados com esse manifesto do senhor Antonio Geraldo, o novo presidente da ABP, falando em ideologia e corporativismo. Novamente, nesse mesmo texto. Lamentável... Insistimos, mais uma vez: Nesse cenário, quem é que está defendendo o corporativismo?
NÓS, sabemos muito bem do que estamos falando!"
Geraldo e Dulce
Familiares da Saúde Mental
Membros do núcleo paulista da Abrasme