domingo, abril 20, 2008

Loucura?


olha, ele disse, admita.

o quê? perguntei.

quando você vê aquela gorda

no supermercado que está

escolhendo laranjas, não

se sente a fim de ir lá e

espremer aquelas ancas feias

bem forte

apenas para ouvi-la gritar?

do que diabos você está falando,

cara? perguntei.

e quando o garçom te traz

teu jantar, não pensa

por um instante que poderia

matá-lo?

não antes do jantar, respondi.

o que estou querendo dizer com isso,

ele continuou,

é que há uma linha muito tênue

entre o que chamamos sanidade e

o que chamamos loucura

e que o esforço que fazemos para

permanecer no lado são

só é feito para que não sejamos

punidos pela

sociedade.

senão, iríamos

frequentemente cruzar essa linha e

as coisas seriam muito mais

interessantes

eu não sei do que diabos

você está falando, cara,

eu disse a ele.

ele apenas suspirou, me olhou

e disse, deixa pra lá, amigo.


BUKOWSKI

sábado, abril 05, 2008

Texto para o projeto do Memorial das Rosas, antigo cemitério do hospício de Barbacena, premiado em 3° lugar.

...E agora as rosas.

Então foi nesse dia que eu acordei. Um sono longo. Quase tão longo quanto o pesadelo de não estar vivo nem morto, naquele lugar sujo e vazio de tudo. Naquilo que eles chamavam de hospital psiquiátrico.

Mas, ao despertar, deixei o meu olhar correr longamente por tudo. E gostei do que vi. Gostei das rosas, do corredor, gostei do jeito que estão os túmulos aonde eu dormia. Mas gostei principalmente da praça, da gente passando, sentando. Das crianças sorrindo e gritando. Parecem passarinhos.

Fiquei feliz quando me veio aquele pensamento, sei lá da onde: não fomos esquecidos, nem nossos sonhos de uma sociedade que saiba lidar com nossa sensibilidade diferente.

E ninguém mais tem sua vida jogada fora daquele jeito: eletro-choque, cela forte, lobotomia, a impregnação dos remédios, o não ter o que fazer, o não ter trabalho, amor, os muros, a exclusão.

Não sei se isso tudo já acabou por esse mundão. Mas aqui é um bom lugar pra se abastecer de esperança.

Barbacena de luz. Memorial das Rosas. Muito obrigado.

Nilo Marques de Medeiros Neto

Florianópolis, 7 de março de 2008



Memorial de Rosas já tem projeto eleito

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"Radicalidade e simplicidade” foram marcas do trabalho que conquistou a comissão julgadora na escolha de projeto arquitetônico para a construção do Memorial de Rosas, em Barbacena. Sob coordenação do arquiteto Cássio de Lucena Carvalho, faturou o primeiro lugar a equipe de Ipatinga formada ainda pelo historiador Fernando Costa, a arte-educadora Áurea de Lucena, e os estudantes Sheila Andrade, Marlon dos Santos e Walter Costa.

Além de receber o prêmio de R$ 15 mil, os profissionais serão responsáveis pela assinatura do marco que irá homenagear os mais de 60 mil pacientes que morreram durante os 103 anos de funcionamento do antigo hospital-colônia na cidade. Pelo projeto, os túmulos do Cemitério Nossa Senhora da Paz serão mantidos como um registro dessa história, enquanto a construção de um novo espaço de eventos e educação artística promete contribuição cultural à população. Uma passarela ainda deve ligar o espaço a um mirante, com visão privilegiada da cidade das rosas.

O anúncio do resultado foi feito esta manhã na Escola de Medicina de Barbacena, como parte da programação do Festival da Loucura. O segundo lugar, com prêmio de R$ 4 mil, ficou para o projeto elaborado por equipe coordenada pelo arquiteto Klaus Chaves Alberto, de Juiz de Fora. O terceiro lugar, com prêmio de R$ 1 mil, ficou para a equipe coordenada pela arquiteta Camila Poeta, de Florianópolis.

O concurso foi promovido pela Prefeitura Municipal de Barbacena e pela Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). A organização ficou a cargo do IEPHA/MG, junto com os promotores.