Se me perguntassem: Nilo, o caps é ruim?
Eu diria que não. Mas pode melhorar muito. Não pretendo ser visto como oposição a toda a reforma psiquiátrica. Mas muito pouco se investe na rede, na cultura, na autonomia dos usuários. Tudo está muito devagar. Nós do controle social não temos a obrigação de conhecer os caminhos legais e nem os político-partidários. Nosso papel é contribuir para a construção de uma política de saúde mental em sintonia com nossas realidades e nossos desejos.
Será que esperamos demais do governo?
O Eduardo Mourão de Vasconcelos, no seu último livro sobre empowerment, até onde compreendi, diz que o problema é da nossa cultura latina, hierarquizada e que valoriza demais as redes de relacionamento, inclusive o familiar. Diferente dos povos do norte da Europa e anglo-saxões, que dão estímulo para que as pessoas sejam mais autônomas e até individualistas. Ele diz também que o fato de sermos um país capitalista periférico, determina que a luta dos usuários seja por direitos básicos, como alimentação e transporte. Que as discussões relacionadas a outros direitos acabam ficando abafadas pela situação de miséria de muitos dos nossos companheiros usuários e suas famílias. Diz ainda o Eduardo, que nossa classe média é profundamente preconceituosa com a doença mental, dificultando a adesão de usuários com uma maior formação acadêmica e articulação política.
Então estamos remando contra uma grande maré, quando lutamos pela formação política dos usuários e o estímulo da construção de associações que sejam terreno fértil, para nossos sonhos de vida melhor.
Mas Nilo, pra você tudo é mais fácil. Sua família lhe ajuda. Você tem um carro e fez faculdade. Você nunca foi internado nem tomou eletro-choque.
Não se pode comparar as dores. Eu sei das minhas limitações e superações. O fato de eu estar ainda participando dessa luta é um sinal de que realmente consegui parar de olhar somente para meu umbigo e fica me achando um coitadinho. Acho sim, que poderia estar fazendo mais do que faço hoje. Mas resolvi tirar a prova dos 9, para saber se o SUS é para todos, não só para os pobres. E saber se já existe alguma possibilidade de eu conseguir aumentar meu poder contratual, como dizem os livros, através dos espaços propostos pelo CAPS, os técnicos, os governos, as associações e o terceiro setor.
Então clareiem minha cabeça e meu coração.
Respondam, onde mora a felicidade?
18 de maio está chegando. Vamos aproveitar para, além de festejar as conquistas, fazermos algumas reflexões sobre o que queremos da atenção psicosocial.
Estarei, a convite, no I Seminário do Movimento da Luta Antimanicomial "Por uma sociedade sem manicômio", que está sendo realizado pelo Núcleo da Luta de Criciúma, Santa Catarina. As companheiras Dipaula e Edelu estão organizando o evento. Certamente vai ser uma boa troca.
Grande abraço, saúde e sorte.
Nilo Neto
Nenhum comentário:
Postar um comentário